Zona de Perigo

Poderia estar aqui falando da música mais tocada durante a folia momesca deste ano, mas os recentes eventos climáticos que atingiram o estado de São Paulo e deixaram 64 mortos vem reforçar que não podemos mais ignorar as zonas de perigo existentes em nosso país. De acordo com dados da Defesa Civil, pelo menos 14 mil pontos no Brasil inteiro são de alto risco, ou muito
risco de desabamento, e estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas estejam envolvidas.

Se você mora no Brasil, em uma breve análise ao redor, conseguirá identificar sem dificuldades o perfil populacional dos habitantes de áreas de risco. Costumam ser populações de baixa renda, mulheres, povos étnicos tradicionais, operários, extrativistas, pescadores, pantaneiros, caiçaras,
ciganos, comunidades de terreiro, ribeirinhos, indígenas, quilombolas.
Importa salientar que tragédias como estas não são apenas “fenômenos da natureza”. Elas acontecem devido à falta de políticas públicas adequadas, à negligência de governos e empresas, e à desigualdade social que coloca as populações mais vulneráveis em situações de risco.

É hora de trazer para o centro das discussões os elementos trazidos na famigerada sigla ESG – Environmental, Social and Governance. O meio ambiente, o social e a governança são elementos decisivos que sustentam boas análises, desencadeando resolutividade, identificação de gargalos e mitigação de impactos.

Precisamos de estratégias eficientes de mitigação que levem em conta não apenas o clima e a geografia, mas também a justiça social e a proteção das populações mais vulneráveis. Uma pauta complexa que envolve clima, gestão, ações socioeducativas, convém ser tratada sob as óticas adequadas, para assim disparar os verdadeiros indicadores e traçar as eficientes estratégias. Até porque, nem clima, nem moradias em encosta por si só é um problema, quem conhece o Corredor da Vitória em Salvador ou Perdizes na capital paulistana, há de concordar.

 

Autora: Tássia é Relações Públicas com 11 anos de experiência em gestão social e relacionamento institucional. Mestra em administração, tem expertise em escuta organizacional e competência em gestão, ESG e sustentabilidade corporativa. Atualmente coordena a gestão social de um plano de reassentamento (fase pós ocupação) atendendo às políticas de
sustentabilidade que abrangem os requisitos especificados nos padrões de desempenho e diretrizes da IFC.