A transição energética é uma das grandes promessas para conter o colapso climático. A ideia é substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, como a solar e a eólica. No entanto, para que isso aconteça, o mundo depende cada vez mais da extração de minerais estratégicos, como lítio, cobalto, cobre e terras raras — recursos essenciais para baterias, painéis solares e turbinas.

O Brasil, por sua riqueza geológica, está no centro desse novo ciclo de exploração. Estados como Minas Gerais, Bahia, Pará e Piauí já vivem uma corrida por investimentos em mineração de transição. Mas essa corrida tem gerado conflitos, ameaças e violações de direitos, principalmente em territórios indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.

Neste cenário, o Ideias levanta uma pergunta urgente: é possível uma transição energética realmente justa e sustentável sem desrespeitar os territórios mais vulneráveis?

Dados que revelam um modelo desigual

De acordo com levantamento publicado em 2025 pela Rede Brasileira de Justiça Ambiental e pela Comissão Pró-Índio, existem mais de 140 pedidos de lavra de lítio e terras raras sobre terras indígenas em análise na ANM (Agência Nacional de Mineração). Muitos desses pedidos estão em áreas ainda não demarcadas oficialmente, como territórios do povo Xakriabá, no norte de Minas Gerais.

No Piauí, comunidades quilombolas do semiárido vêm denunciando a atuação de mineradoras de lítio, que avançam sobre suas roças, nascentes e cemitérios ancestrais. As empresas, em muitos casos, operam sem ouvir os moradores, apoiadas por processos burocráticos acelerados e falhas nos mecanismos de consulta prévia e livre.

Além disso, há impactos ambientais graves: o lítio é extraído com uso intensivo de água, o que agrava a crise hídrica em regiões já secas. A mineração também gera rejeitos tóxicos, contamina o solo e ameaça a biodiversidade.

O que é uma transição energética justa?

A transição energética justa é um conceito defendido por organizações sociais, cientistas e instituições internacionais, como a ONU e o IPCC. Ela pressupõe que a mudança para fontes limpas precisa acontecer com justiça social, equidade racial e respeito aos direitos humanos.

Isso significa que não basta trocar uma tecnologia suja por uma limpa. É preciso garantir:

  • Que os povos afetados sejam consultados de forma livre, prévia e informada (FPIC);

  • Que os benefícios da transição — como emprego, renda e eletrificação — cheguem às periferias e zonas rurais;

  • Que a mineração obedeça a critérios de sustentabilidade ambiental e transparência;

  • Que haja planejamento territorial, com participação das comunidades e proteção dos ecossistemas locais.

O papel do Ideias: território em primeiro lugar

O Ideias atua em comunidades que já estão sendo impactadas por grandes empreendimentos de infraestrutura, inclusive de mineração. Nosso trabalho busca fortalecer a autonomia comunitária, a proteção dos modos de vida tradicionais e a construção de soluções inclusivas.

Nossas ações envolvem:

  • Formação sobre direitos territoriais e consentimento prévio;

  • Apoio à criação de planos comunitários de uso da terra e da água;

  • Diálogo com órgãos públicos para garantir a fiscalização e transparência dos processos;

  • Articulação de redes de resistência e incidência nacional.

Acreditamos que a energia limpa deve começar com justiça — e que os povos do território não podem ser empurrados para a margem do desenvolvimento.

Uma agenda para além da mineração

Com a proximidade da COP30, em Belém, o Brasil terá a chance de mostrar ao mundo que pode liderar a transição energética com responsabilidade social. Isso exige coragem para repensar o modelo extrativista e apostar em tecnologias descentralizadas, energias comunitárias e participação ativa dos povos do campo e da floresta.

IDEIAS FORM: transformando dados em decisões sustentáveis

Plataforma de Inteligência Socioambiental com foco em Stakeholders e Indicadores.  

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