Taylor Swift e as adaptações climáticas na prática

Exemplo mais prático do que a necessidade de adaptação climática por parte do mundo corporativo do que o show da Taylor Swift no Rio de Janeiro, não há. E o perigo é acharmos que se trata de um caso isolado.

Durante uma semana de calor extremo, na sexta-feira 17 de novembro de 2023, o Rio de Janeiro registrou uma das maiores temperaturas do ano, atingindo 40°C com sensação térmica recorde perto dos 60°C.  Se apenas este fato não bastasse para colapsar uma cidade, a Prefeitura Municipal do Rio informou que as unidades de saúde atenderam uma pessoa a cada 2 horas por sintomas relacionados ao calor, soma-se a isto um “meteoro americano” chamado Taylor Swift.

Além das imensas adversidades para um evento desse porte, as enormes filas que se formaram durante horas em local desabrigado do sol, a proibição de entrar no evento com garrafas de água de uso pessoal, a falta de ilhas de hidratação em um cenário de extremo calor, a cobertura do gramado com placas de ferro e preços ousados na comercialização de copos de água transformaram o Engenhão em um verdadeiro caldeirão. Sendo, o somatório de todos ou parte desses fatores, o possível motivo do falecimento da jovem Ana Clara.

Reflexões sobre o custo da inação ou tomada de decisões que não foram revistas, diante da possível catástrofe, vem à tona e colocam em xeque a reputação dos responsáveis. Principalmente quando o evento seguinte é cancelado, medidas são impostas pelo Ministério da Justiça e os pronunciamentos do público e autoridades ecoam incessantemente.

Que os eventos climáticos extremos são cada vez mais constantes talvez todos já tenham se atentado, a grande questão é o que fazer diante disso. Se adaptar não é apenas uma realidade, é uma necessidade. Globalmente, nos últimos 50 anos, cerca de 11 mil desastres relacionados ao clima custaram mais de 2 milhões de vidas e 3,6 trilhões de dólares à economia mundial, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Assim, ações incomuns pedem soluções incomuns, de forma que as adversidades impostas pelo clima, a proteção à saúde dos colaboradores, clientes, parceiros e consumidores e os riscos reputacionais devem ser considerados. Porém, somente haverá mudanças significativa nas corporações quando o prisma da gestão de risco for de fato incorporado à visão de impacto.

Vale relembrar que pela primeira vez na história a famosa Oktoberfest, em Blumenau, foi suspensa durante uma semana após a abertura devido às chuvas na região. Além disso, a tradicional prova de Fórmula 1 do circuito de Interlagos (SP) também não passou ilesa, necessitando de reparos emergenciais nas instalações devido a tempestades. E para não acharmos que são cenas apenas do território nacional, há poucos meses mais de 70 mil pessoas ficaram ilhadas por dias durante um festival em um deserto americano, pois as fortes chuvas transforaram a areia do deserto em uma lama com aspecto argiloso que bloqueou os acessos e saídas.

Não é sobre “ver”, é sobre “enxergar” as boas práticas socioambientais e de governança como gestão de riscos empresariais. O acrônimo ESG, associado à estas ações, deve ser visto além da sustentabilidade temporal e financeira das empresas, mas como riscos e métodos organizacionais.

Observando estes acontecimentos, que embora atípicos são cada vez mais comuns, fica o alerta para que as instituições entendam a necessidade de se adaptarem às novas realidades impostas mas para que nós, cidadãos comuns, saibamos identificar e valorizar as práticas que tornam a nossa sociedade mais segura e sustentável para as futuras Anas Claras.

 

Autor: Luana Romero

Diretora Executiva do Ideias