O Impacto do Lixo disposto de forma indevida

Após dias de intensas chuvas, nos deparamos com a absurda quantidade de lixo que foi carreada pelas águas nos córregos e rios do nosso estado. Todo esse lixo é proveniente da disposição inadequada pela população nas vias, praças públicas ou simplesmente são dispostos em terrenos baldios que configuram os “pontos viciados de lixo”.

A consequência é o que pudemos assistir através de apelos de governantes na
tentativa de sensibilizar a população. Bueiros entupidos, alagamentos de bairros e corpos hídricos abarrotados de plásticos, e outros resíduos que deveriam ter sido dispostos de forma correta.

O Brasil tem uma Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010, a LEI Nº 12.305, e o estado tem a sua Política Estadual instituída através da Lei nº 9.264 em 2009. Além disso o estado conta com o seu Plano Estadual de Resíduos Sólidos aprovado por meio da Resolução Consema Nº 004, de 16 de julho de 2019.

O Plano abrange todo o território capixaba para um horizonte de 20 anos, e foi fruto de um trabalho participativo que incluiu nas discussões todos os agentes e setores envolvidos na gestão e gerenciamento de resíduos no estado.
As Prefeituras da Grande Vitória mantêm programas de coleta seletiva através de sistema de Postos de Entrega Voluntária ou de coleta seletiva Porta a Porta, e ainda programas de conscientização e de educação ambiental para a população. Então, não tem desculpa para descarte de lixo de forma inadequada, nem dentro de rios e nem em terrenos baldios, como vimos pela imprensa e redes sociais, toneladas de lixo sendo retiradas do Rio Fomate, em Cariacica, e o apelo da Prefeitura para que cenas como aquela não se repetissem.

Precisamos avançar na temática e envolver toda a sociedade nas soluções,
entendendo a dimensão e consequências que podem ter a falta de destinação correta do lixo por parte da população. O lixo nos oceanos é fruto dessa má gestão. Segundo a Marinha do Brasil, “estima-se que 80% do lixo marinho tenha origem em terra, chegando aos oceanos por meio dos cursos d’água”, ou seja, somente 20% do lixo hoje nos oceanos provêm de atividade marítima.

Um estudo global publicado na revista científica Nature Sustainability revelou que 80% do lixo encontrado nos oceanos é composto por plástico, sobretudo sacolas e garrafas.

Em seguida vêm metal, vidro, roupas e outros artigos têxteis, borracha, papel e
madeira processada. A maior proporção de plástico encontra-se nas águas superficiais (95%), seguida das costas (83%), enquanto os leitos dos rios apresentam a menor percentagem (49%).

Segundo dados divulgados pelo Projeto Tamar “estima-se que em torno de 6.4 milhões de toneladas de lixo marinho são descartadas nos oceanos e mares a cada ano. Mais de 13 mil pedaços de lixo plástico estão, atualmente, flutuando em cada quilômetro quadrado de oceano.

As consequências dramáticas são que muitos animais marinhos ingerem estes resíduos confundindo-os com alimentos. Ainda segundo dados do Tamar, aparelhos digestivos de animais recheados de plásticos têm menor capacidade de assimilação de nutrientes oriundos de alimentos verdadeiros. Isso reduz a probabilidade de sobreviverem e pode, em longo prazo, causar o colapso de determinadas populações. Tartarugas marinhas, focas, leões marinhos, golfinhos, peixes-boi, aves marinhas e peixes são algumas das inúmeras vítimas.

Ademais, precisamos pensar que todo esse material reciclável constitui uma fonte derenda para inúmeras pessoas que sobrevivem da separação e venda desses materiais fazendo a economia circular.

De acordo com a ONU e com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 15 milhões de pessoas trabalham com a coleta, a triagem e a reciclagem de resíduos gerados pelas cidades no mundo todo. No Brasil, segundo levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), são cerca de 800 mil em atividade.

Portanto, convido vocês a fazerem parte dessa importante ação de destinação correta dos resíduos sólidos, não dispondo o lixo inadequadamente em encostas, terrenos baldios, cursos d’água e praias. Vamos procurar lixeiras, coletores, fazer a separação nas nossas casas e dispor nosso material inservível de forma que ele retorne ao círculo produtivo, gerando fonte de renda para muitos, e ainda cuidando do nosso ambiente,dos nossos rios, nossas praias, nossos oceanos e da nossa fauna.

Autor: Tereza Romero é fundadora do IDEIAS e exerce a função de Diretora Presidente e de Relações Institucionais. É arquiteta e urbanística de formação e atuou em diversos projetos para ressignificar impactos socioambientais de empreendimentos. Atou em parceria com o IEMA na estruturação da gestão de resíduos sólidos no estado.