
Semana do Meio Ambiente Ideias 2025: Conheça a força da Educação Ambiental na promoção de transformações socioambientais
A educação ambiental tem se mostrado uma ferramenta poderosa para promover mudanças significativas em comunidades vulneráveis. Especialistas e organizações têm trabalhado para integrar práticas sustentáveis no cotidiano de adultos e crianças, visando não apenas a preservação ambiental, mas também a justiça social.
Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) de 2024, crianças em comunidades vulneráveis estão entre as mais afetadas por desastres climáticos no Brasil, como enchentes e deslizamentos. Implementar a educação ambiental nas escolas dessas regiões é crucial para prepará-las para lidar com eventos extremos e fortalecer sua resiliência.
Educação Ambiental como ferramenta de justiça socioambiental
O Brasil é um dos países com maior desigualdade social e ambiental. A educação ambiental pode ser usada como uma ferramenta de justiça socioambiental, especialmente em territórios indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas. Organizações como o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), presidido por Suzana Pádua, têm atuado na integração entre educação ambiental e ciência, promovendo a formação de especialistas na área ambiental.
Segundo o Censo Escolar de 2023, apenas 18% das escolas públicas no Brasil possuem projetos contínuos de educação ambiental. Há uma necessidade urgente de políticas públicas que tratem a educação ambiental como prioridade, garantindo sua eficácia nas populações mais vulneráveis.
ONGs Atuantes na Educação Ambiental
Diversas ONGs têm desempenhado um papel fundamental na promoção da educação ambiental no Brasil, o Ideias selecionou algumas, confira:
* Instituto Perifa Sustentável: Mobiliza jovens a favor de uma nova agenda de desenvolvimento para o Brasil, a partir da justiça racial e ambiental.
* Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ): Atua na integração entre educação ambiental e ciência, formando especialistas na área ambiental.
* Associação Caatinga: Promove a conservação das terras, florestas e águas da Caatinga, garantindo a permanência de todas as suas formas de vida.
* Instituto Maranhão Sustentável: Promove e apoia o desenvolvimento autêntico, pautado nos valores socioambientais, gerando protagonismo social e valorização do patrimônio cultural e socioambiental.
Neste Dia Nacional da Educação Ambiental, e na Semana Mundial do Meio Ambiente, o Ideias convidou a especialista em ESG e Sustentabilidade, Carolinna Amorim, para abordar o tema de maneira clara e didática. Confira.
- O relatório do PNUMA de 2024 destacou que crianças em comunidades vulneráveis estão entre as mais afetadas por desastres climáticos no Brasil, como enchentes e deslizamentos. Como a educação ambiental nas escolas pode prepará-las para lidar com esses eventos extremos e fortalecer sua resiliência?
A educação ambiental, ou educação para a sustentabilidade, quando integrada às práticas pedagógicas escolares, atua como estratégia para o desenvolvimento da capacidade de crianças e jovens de se adaptarem frente aos riscos socioambientais que enfrentamos.
Na realidade vivenciada por comunidades vulneráveis, a educação ambiental deve ser pensada sob uma perspectiva crítica e emancipatória, que seja capaz de instrumentalizar crianças e jovens na leitura socioecológica dos seus territórios.
Isso inclui compreender os fatores que geram os desastres (e que são socialmente e culturalmente construídos), o mapeamento participativo de riscos e a apropriação de conhecimentos sobre prevenção, mitigação e adaptação às mudanças climáticas, trabalhando temas como mapeamento de riscos, uso sustentável dos recursos, gestão da água e até primeiros socorros.
Nesse aspecto, a educação ambiental não deve ser apenas utilizada para sensibilizar, mas fortalecer a resiliência socioecológica, fomentando uma cultura de gestão de riscos e de protagonismo comunitário desde a infância. Além disso, ao envolver as famílias e a comunidade escolar, cria-se uma rede de proteção que aumenta a capacidade de resiliência do território como um todo.
- Ainda é comum associar educação ambiental apenas a crianças e escolas. Que estratégias têm se mostrado eficazes para engajar adultos — especialmente aqueles em periferias urbanas e áreas rurais — no aprendizado ambiental e na construção de soluções locais?
Experiências comunitárias mostram que o aprendizado ambiental com adultos, em contextos socioambientais vulneráveis, ganha mais força quando está conectado às realidades do território e às necessidades do dia a dia dessas pessoas. Isso ocorre quando os processos formativos são vinculados às dimensões da reprodução social, da economia solidária e da segurança alimentar, por meio de metodologias participativas.
Experiências como mutirões, oficinas comunitárias, tecnologias sociais e processos de educação popular ambiental permitem que o conteúdo técnico se articule aos saberes tradicionais e territoriais, promovendo soluções contextualizadas, potencializando, assim, o engajamento desse público. Este modelo fomenta a eco cidadania, fortalece os vínculos comunitários e estimula a construção coletiva de alternativas sustentáveis, com impactos diretos na melhoria das condições de vida. A educação ambiental não deve ser algo separado da vida, e sim um saber integrado à rotina e ao cotidiano das comunidades.
- Considerando que o Brasil é um dos países com maior desigualdade social e ambiental, como a educação ambiental pode ser usada como ferramenta de justiça socioambiental, especialmente em territórios indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas?
A educação ambiental deve ser compreendida como um direito coletivo e um instrumento de fortalecimento dos territórios tradicionais. Trata-se de uma abordagem que reconhece a importância dos conhecimentos ancestrais na gestão dos bens comuns e na conservação e regeneração socioambiental.
Sendo assim, a educação ambiental precisa estar fundamentada na interculturalidade, no processo dialógico e na valorização das práticas socioculturais desses povos. Ao potencializar o direito desses povos de decidirem seu próprio destino, com base na sua organização política, econômica, social e cultural, e os processos de resistência socioambiental, a educação ambiental se configura como um mecanismo estratégico na luta contra as desigualdades estruturais e os processos de colonialidade presentes nas dinâmicas socioambientais brasileiras.
- Segundo o Censo Escolar de 2023, apenas 18% das escolas públicas no Brasil possuem projetos contínuos de educação ambiental. O que falta em termos de políticas públicas para que a educação ambiental seja tratada como prioridade e chegue de forma eficaz às populações mais vulneráveis?
O principal desafio está na ausência de uma política pública que enxergue a educação ambiental como eixo estruturante e transversal, e não como atividade pontual, seja nas escolas ou nos demais espaços de troca comunitária, pois a educação ambiental não se limita à escola formal.
É necessário criar políticas intersetoriais que reconheçam a educação ambiental e as práticas de preservação como vetores de desenvolvimento sustentável e de enfrentamento às desigualdades socioambientais, e não como algo que “atrapalhe o desenvolvimento do país”. Isso exige a construção de diretrizes claras, financiamento contínuo de práticas educacionais voltadas à resiliência climática, programas estruturantes e formação permanente de agentes socioambientais.
Além disso, é extremamente importante que, enquanto transversal, a política de educação ambiental dialogue de forma orgânica com outras políticas públicas, como assistência social, saúde, habitação e desenvolvimento territorial, incorporando as especificidades de cada território. Com a ausência dessa estrutura, a educação ambiental permanece restrita a ações pontuais, sem capacidade de gerar transformações estruturais nas populações mais vulnerabilizadas.
Conheça alguns cases de sucesso do Ideias na área de Educação Ambiental: