Resíduos sólidos e os pilares do ESG

O período pós pandêmico impulsionou a reflexão sobre a geração e gestão do lixo em diversas nações do planeta. O isolamento social e o aumento de trabalhos remotos, transferiram a produção do resíduo de vários setores da economia, para o interior das residências. É preciso pontuar que muitas moradias não dispõem de acesso à coleta seletiva ou sequer ao descarte adequado do lixo. Visto isso, tornou-se frequente nas comunidades as seguintes perguntas: “Por que a quantidade de lixo em minha casa aumentou tanto? Como posso reduzir?”.

Nesta temática, a nível internacional, tem-se o notável caso da Alemanha, que visa alcançar a recuperação completa e de alta qualidade dos resíduos sólidos urbanos (RSU) até o final da atual década, de forma a zerar o envio de refugo aos aterros sanitários. Líder mundial em tecnologias e políticas de RSU, a nação germânica apresenta os melhores e mais elevados índices de reaproveitamento do material. O que não é reaproveitado é enviado para incineração controlada para a produção de energia limpa.

De forma semelhante, onde a redução do envio de RSU para aterros sanitários torna-se fator essencial para a vida em sociedade, podemos citar o Japão, um dos países com maior densidade demográfica do planeta, com cerca de 337 hab/km². Ligado a isso, nota-se um entrave em utilizar apenas aterros sanitários para absorver o lixo produzido diariamente, dada a capacidade reduzida e vida útil limitada desse mecanismo de descarte. Prevendo isso, desde 1970, vigora no território nacional japonês a Lei de Gestão de Resíduos, voltada para a implementação de políticas públicas eficazes no controle da produção e descarte consciente do lixo.

No Brasil, a realidade é bem diferente. Apesar da imensa extensão territorial, ainda nos deparamos com sérios desafios de gestão urbana. Convém ressaltar que a Lei nº 12.305, sancionada em 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), veio quase meio século após a legislação de mesma referência do Japão.

Não obstante, hoje nota-se uma crescente retomada às atividades presenciais no meio econômico, e a geração de lixo concentra-se novamente nos diversos setores de produção. Se faz necessário adotar a economia circular, considerada o futuro do planeta. Nada deve ser jogado fora, afinal, não existe “fora”.

Relacionar as políticas internas à educação e conscientização ambiental quanto a não geração, redução, reutilização e, se possível, reciclagem de resíduos, viabiliza e compõe os princípios do ESG (Environmental, Social and Governance), contribuindo com seus pilares. Aproximar o meio corporativo a esse sistema e à mitigação de impactos ambientais quanto à gestão de resíduos enriquece a relação entre empregador, colaborador, meio social e meio ambiente, de forma a representar as consideradas “atitudes verdes”.

Alguns exemplos que retratam atitudes verdes, que constituem os três pilares do ESG e são voltadas para a sustentabilidade, são: a conversão de renda nas empresas, proveniente da separação e venda de materiais recicláveis; a geração de oportunidades para as Associações de Catadores de Materiais Recicláveis, que transformam o lixo em receita; além da conservação de recursos naturais que deixam de ser extraídos para fins de produção.

Por todos esses aspectos, a mudança de postura com base nas boas práticas
ambientais adotadas pelo setor econômico, como o correto gerenciamento dos resíduos produzidos e da ampla publicidade destas ações individuais, decerto insurgirá uma reação em cadeia benéfica à preservação da natureza e dos recursos naturais, que contribuirão para a subsistência de um planeta mais limpo e saudável para todos os seres vivos.

Enfatizo a seguinte questão: Você pratica ações de sustentabilidade no seu dia a dia, em casa ou no trabalho?

 

Autor: Priscila Motté Costa, Analista Socioambiental Jr. no IDEIAS. Engenheira
Sanitarista e Ambiental pelo IFES e Engenheira de Segurança do Trabalho pela
FACAM, Perita Ambiental, com curso complementar de Perícia Trabalhista pelo CREA/ES.