Mudanças climáticas: Uma realidade atual, assustadora e de responsabilidade coletiva

Quando pensamos em mudanças climáticas nos vem à cabeça imagens do aquecimento das calotas polares e a diminuição do gelo. Mas as mudanças climáticas já estão ocorrendo no nosso território e bem diante do nosso nariz.

As fortes chuvas que vem assolando o Brasil nos últimos meses são o exemplo dessa transformação do clima. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, na última primavera (21 de setembro a 21 de dezembro de 2022) “as chuvas foram acima da média em quase todas as regiões brasileiras. O destaque vai para o norte da Região Norte, onde foram registrados maiores desvios positivos de chuva neste período.”

Devido a sistemas meteorológicos hoje conhecidos como a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que se configuram como um dos principais causadores de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste entre o fim da primavera e o verão. Fenômenos como o El Niño e a La Niña interferem na formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, dificultando ou favorecendo a formação e atuação do sistema.

Segundo o último relatório do IPCC de 2022, os impactos das mudanças climáticas já provocaram perdas e danos para pessoas e ecossistemas. Metade da população mundial já vive sob risco climático, e os impactos são mais graves entre populações urbanas marginalizadas. Nas regiões mais vulneráveis, o número de mortes por secas, enchentes e tempestades foi 15 vezes maior na última década do que nas regiões menos vulneráveis. “Essa vulnerabilidade tem cor, raça, gênero, etnia e geografia”, disse Patrícia Pinho, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), uma das autoras brasileiras do relatório. O efeito das chuvas torrenciais vem sendo sentido em várias regiões e cidades do Brasil, afetando principalmente os mais vulneráveis.

E de que forma isso afeta a todos? Precisamos pensar como iremos nos adaptar a essa nova realidade. Não será possível se não iniciarmos agora, os debates, os projetos, as soluções e principalmente como iremos implementá-los.

A exemplo de Veneza, que implantou um sistema de barreiras no mar Adriático e na lagoa, que demorou quase quatro décadas para ser construída, mas pôde

salvar a cidade flutuante das inundações. Após muito receio de que as barreiras nunca ficariam prontas, em 2020 as barreiras foram testadas. Em 2022 novo evento climático teria levado cerca de metade da cidade a ficar debaixo d’água, mas graças às barreiras, nada aconteceu.

Por outro lado, em Londres apesar da construção de um sistema gigante de barreiras de defesa contra enchentes no rio Tâmisa para proteção das inundações, o mesmo tem sido de pouca ajuda quando se trata de enchentes repentinas causadas por chuvas intensas – o que está se tornando mais comum devido ao aumento temperaturas. De acordo com a Greater London Authority, 17% de Londres está enfrentando alto ou médio risco de inundação, com mais de 1 milhão de londrinos vivendo em uma planície sujeita a inundação.

Vimos aqui exemplos que somente obras e grandes empreendimentos não serão suficientes para promover a adaptação da população às mudanças do clima. É preciso mais, é preciso planejamento e comprometimento de governos, empresas e sociedade.

No Espírito Santo, o Plano Estadual de Mudanças Climáticas, capitaneado pelo Governo do Estado em parceria com cientistas da Ufes e representantes dos setores industrial e agrícola, encontra-se em elaboração.

Grandes empresas do estado têm realizado esforços no sentido de promover ações que propiciem a descarbonização, visando assim a redução das emissões de gases efeito estufa, através de tecnologias verdes inovadoras e mudanças de padrões.

É preciso que este tema seja popular e que faça parte da agenda de governos, empresas e sociedade. Como nós podemos contribuir? A minimização dos efeitos é também um problema de todos nós enquanto seres humanos.

Pequenas atitudes podem fazer grande diferença, tais como: 1. Manusear de forma correta o lixo doméstico, fazendo a separação e destinando em locais apropriados; 2. Evitar construções em terrenos de grande aclive sem proteção, nas encostas, nas margens de córregos e rios; 3. Adaptar as habitações para o uso de energias renováveis, reutilização das águas servidas, utilização de materiais mais sustentáveis, como concreto reciclado, materiais biodegradáveis, tijolos ecológicos etc.; 4. Evitar a impermeabilização de todo o solo, com calçadas e pavimentos; 5. Reduzir o uso e possibilitar a reciclagem e o reuso do plástico; 6. Utilizar transporte público, usar bicicletas ou combustíveis de origens não fósseis; 7. Consumir produtos sustentáveis, ficando atento a origem e forma de fabricação; 8. Reduzir o consumo de produtos de origem animal bovina, substituir as proteínas da carne e do leite.

As mudanças climáticas já estão aqui e só temos uma alternativa: nos adaptarmos e fazermos a nossa parte para minimiza-la. É assustador, mas temos que pensar na nossa responsabilidade perante as futuras gerações. Então, vamos fazer a nossa parte?