
Falar sobre justiça climática é, acima de tudo, reconhecer que os efeitos da crise ambiental não atingem todas as pessoas da mesma forma. Na Amazônia brasileira, esse desequilíbrio se evidencia diariamente. Povos indígenas, comunidades ribeirinhas, quilombolas e extrativistas vivem na linha de frente da destruição ambiental — mas também lideram as principais estratégias de resistência e preservação da floresta.
Em julho de 2025, o lançamento do “Atlas da Amazônia: Justiça Climática e Saberes Locais” trouxe uma nova dimensão para esse debate. Publicado por uma rede de organizações amazônicas, o estudo reúne 58 autores locais de 9 estados da Amazônia Legal e denuncia a escalada da degradação ambiental, ao mesmo tempo em que aponta caminhos sustentáveis construídos de dentro para fora da floresta.
A crise se agrava: mineração, desmatamento e violência
De acordo com os dados do Atlas, entre 2020 e 2025 houve um aumento de 482% nas áreas impactadas pela mineração ilegal na Amazônia, afetando diretamente territórios indígenas, comunidades quilombolas e unidades de conservação. A destruição ambiental anda lado a lado com o aumento da violência: somente em 2024, foram registrados 37 casos de ameaças e ataques contra defensores ambientais na região.
Além disso, o desmatamento segue em níveis alarmantes. Mesmo com algum recuo em áreas específicas, a Amazônia Legal perdeu, em média, 1 hectare de floresta por minuto em 2023, segundo o MapBiomas. O avanço do agronegócio extensivo, a especulação fundiária e a omissão do Estado contribuem para esse cenário.
No entanto, o Atlas mostra que, apesar do colapso, existem centenas de experiências comunitárias de resistência, reflorestamento e gestão sustentável. Essas ações são invisibilizadas nas grandes políticas públicas, mas são essenciais para o futuro do clima global.
O que é justiça climática e por que ela importa?
Justiça climática é o reconhecimento de que a crise do clima tem causas históricas ligadas à desigualdade social, à colonização e à exploração dos recursos naturais. Portanto, soluções técnicas — como transição energética ou metas de carbono — precisam estar integradas a medidas de redistribuição, reparação e inclusão.
Na Amazônia, isso significa:
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Garantir demarcação e proteção efetiva de territórios tradicionais;
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Apoiar políticas públicas que valorizem saberes e economias comunitárias;
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Incluir as populações locais nos espaços de decisão sobre clima e biodiversidade;
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Combater a criminalização de defensores e movimentos sociais.
Essa abordagem é defendida por instituições como o IPCC, a FAO e a Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, e tem ganhado destaque nos últimos fóruns internacionais.
Justiça climática rumo à COP30
Com a COP30 marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), a Amazônia ocupa o centro das atenções globais. No entanto, ainda há o risco de que a região seja usada como vitrine verde, sem que suas populações sejam ouvidas de fato.
Por isso, o Instituto Ideias se soma a outras organizações do Norte do Brasil na construção de uma agenda que coloque a justiça climática como eixo central da conferência. A Amazônia não é apenas floresta — é território habitado, cultura viva e resistência histórica.
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