
Sabemos que a biodiversidade — a variedade de formas de vida na Terra — é essencial para a manutenção da vida e do bem-estar humano. Ela sustenta ecossistemas que fornecem serviços vitais, como purificação da água, polinização de culturas, regulação do clima e fornecimento de alimentos e medicamentos. No entanto, a biodiversidade global está em declínio acelerado, representando uma ameaça direta à sustentabilidade do planeta.
Brasil: Guardião da Biodiversidade Mundial
Atualmente, o Brasil é reconhecido como o país com a maior biodiversidade do planeta, uma vez que abriga mais de 20% das espécies conhecidas globalmente. De fato, são mais de 116 mil espécies animais e 46 mil espécies vegetais registradas, distribuídas entre seis biomas terrestres e três grandes ecossistemas marinhos.
Além disso, o país concentra a maior floresta tropical do mundo — a Amazônia —, bem como a maior reserva de água doce do planeta. Somado a isso, o Brasil apresenta uma rica diversidade sociocultural, com mais de 200 povos indígenas e diversas comunidades tradicionais que, historicamente, mantêm uma relação profunda e respeitosa com a natureza.
Declínio Global da Biodiversidade: Um Alerta Urgente
O Relatório Planeta Vivo 2024 do WWF revela que, entre 1970 e 2020, houve uma redução média de 73% nas populações de vida selvagem monitoradas globalmente. Na América Latina e no Caribe, essa queda foi ainda mais acentuada, atingindo 95%. As principais causas incluem a perda e degradação de habitats, superexploração de recursos naturais, poluição, espécies invasoras e mudanças climáticas .
De acordo com um novo estudo publicado na revista BioScience, mais de 3.500 espécies animais já enfrentam ameaças diretas causadas pelas mudanças climáticas. Conduzida por William Ripple, ecólogo da Universidade Estadual do Oregon (OSU), a pesquisa analisou dados de 70.814 espécies pertencentes a 35 classes do reino animal, com base nas informações da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Como resultado, os dados apontam para uma crise silenciosa, mas crescente, capaz de comprometer de forma profunda o equilíbrio dos ecossistemas globais.
“Estamos apenas começando a enfrentar uma crise existencial para a vida selvagem do planeta”, alerta Ripple. “Até agora, a perda de biodiversidade foi impulsionada, principalmente, pela exploração excessiva e destruição de habitats. Contudo, o agravamento das mudanças climáticas está prestes a se tornar a terceira grande força destrutiva.”
Além disso, os oceanos — que absorvem mais de 90% do calor gerado pelo aquecimento global — têm sido palco de colapsos ecológicos cada vez mais graves. A pesquisa mostra a extensão desses impactos especialmente sobre a vida marinha.
Entre os grupos mais vulneráveis, destacam-se os invertebrados marinhos. Classes como os anthozoários (corais) e hidrozoários (relacionados a águas-vivas), além de aracnídeos e quilópodes (como as centopeias), registram mais de 25% de suas espécies ameaçadas diretamente pelas mudanças no clima.
Exemplos concretos não faltam. Casos de mortalidade em massa, como a morte de bilhões de invertebrados na costa do Pacífico durante a onda de calor de 2021, ilustram um padrão cada vez mais frequente. Da mesma forma, a perda de 29% dos recifes de coral da Grande Barreira de Corais em 2016 e a redução de 90% das populações de moluscos na costa de Israel são sinais alarmantes da gravidade da situação.
Esses eventos, porém, não se limitam a animais pequenos. Em 2015 e 2016, cerca de 4 milhões de aves marinhas da espécie arau-comum morreram de fome na costa oeste da América do Norte — uma consequência direta das alterações na cadeia alimentar provocadas por uma onda de calor oceânica. Consequentemente, o mesmo fenômeno levou à queda de 71% na população de bacalhau-do-Pacífico e pode ter contribuído para a morte de aproximadamente 7.000 baleias-jubarte no norte do Pacífico.
Apesar da gravidade dos dados, grande parte do risco climático que paira sobre a fauna global permanece desconhecida. Isso ocorre, principalmente, pela ausência de dados suficientes. Atualmente, mais de 60% dos grupos animais ainda não foram avaliados quanto à sua vulnerabilidade climática. E mesmo entre os que foram, os vertebrados — que representam menos de 6% das espécies conhecidas — dominam as listas da IUCN. Em outras palavras, a esmagadora maioria dos invertebrados continua ignorada.
“Precisamos, com urgência, de um banco de dados global sobre eventos de mortalidade em massa relacionados ao clima, bem como de avaliações mais frequentes e abrangentes sobre a capacidade de adaptação das espécies”, defende Ripple. Além disso, o estudo reforça a necessidade de integrar políticas de biodiversidade e de enfrentamento das mudanças climáticas de forma coordenada e em escala global.
Em síntese, proteger a vida no planeta exige muito mais do que conservar áreas verdes ou salvar espécies carismáticas. É fundamental enfrentar o maior desafio de todos — o clima em transformação — com informação, ação e cooperação internacional.
Serviços Ecossistêmicos: A Base da Vida e da Economia
Em primeiro lugar, a biodiversidade é essencial para a prestação de serviços ecossistêmicos que sustentam diretamente a vida humana. Para ilustrar, cerca de 75% das culturas agrícolas dependem, em algum grau, da polinização realizada por insetos.
Nesse contexto, os serviços prestados por polinizadores são altamente valiosos: em escala global, esses serviços são estimados entre US$ 235 e 577 bilhões por ano. Especificamente no Brasil, esse valor chega a aproximadamente US$ 42 a 43 bilhões.
Além disso, a biodiversidade também representa uma fonte crucial de medicamentos. Estima-se que, pelo menos 50% dos compostos farmacêuticos comercializados nos Estados Unidos sejam derivados de fontes biológicas.
Biodiversidade e Mudanças Climáticas: Uma Relação Interdependente
Em termos climáticos, os ecossistemas saudáveis desempenham um papel fundamental na regulação do clima, pois absorvem aproximadamente metade das emissões globais de gases de efeito estufa.
Por outro lado, a destruição de habitats naturais contribui significativamente para o aumento dessas emissões, agravando os impactos das mudanças climáticas. Para se ter uma ideia, a conversão de terras para a agricultura e outras atividades responde por cerca de 23% das emissões antrópicas desses gases.
Diante desse cenário alarmante, torna-se urgente adotar medidas eficazes para conservar e restaurar a biodiversidade. Entre as ações necessárias, destacam-se:
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Implementação de políticas públicas que promovam o uso sustentável dos recursos naturais e a proteção dos ecossistemas.
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Investimentos em pesquisa e monitoramento da biodiversidade para informar decisões e ações de conservação.
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Fortalecimento da bioeconomia, aproveitando o potencial da biodiversidade para o desenvolvimento sustentável e a geração de empregos.
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Engajamento das comunidades locais e povos indígenas na gestão e conservação dos recursos naturais, reconhecendo seus conhecimentos tradicionais e direitos.
A biodiversidade é um patrimônio inestimável que sustenta todas as formas de vida no planeta. Além disso, sua conservação é crucial não apenas para a manutenção dos ecossistemas, mas também para garantir a saúde, a segurança alimentar e o bem-estar das populações humanas.
Nesse contexto, o Brasil, por abrigar uma das maiores biodiversidades do mundo, possui não só uma grande responsabilidade, como também uma oportunidade única de liderar os esforços globais em defesa da natureza.
Portanto, é hora de agir com urgência e determinação, a fim de assegurar um futuro verdadeiramente sustentável para as próximas gerações.
Fonte: Um só Planeta, WWF.