
O acesso universal à água tratada e ao esgoto sanitário é um direito humano fundamental e um pilar para a promoção da saúde, dignidade e justiça socioambiental. Em julho de 2025, o Instituto Trata Brasil divulgou a 17ª edição do Ranking do Saneamento, com dados atualizados dos 100 municípios mais populosos do país. O estudo revela avanços importantes em algumas regiões, mas também evidencia um Brasil ainda profundamente desigual em sua infraestrutura básica.
O que o novo ranking mostra?
Com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ano-base 2023, o ranking avalia os municípios a partir de três dimensões:
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Nível de atendimento (água, coleta e tratamento de esgoto);
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Melhoria do atendimento (investimentos em saneamento);
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Eficiência (desempenho técnico-operacional).
A edição deste ano adotou nova metodologia, o que refinou os cálculos e provocou ajustes nas comparações com anos anteriores. Os resultados não indicam retrocesso, mas uma visão mais precisa da realidade.
Cidades que avançam: liderança e boas práticas
O destaque do ano vai para Campinas (SP), que ocupa o 1º lugar no ranking, seguida por Limeira (SP) e Niterói (RJ). São municípios que alcançaram excelência nos três pilares avaliados, com alta cobertura de água e esgoto, forte investimento per capita e operação eficiente dos serviços.
Onze cidades atingiram a universalização do abastecimento de água (100%), incluindo:
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Niterói (RJ)
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Curitiba (PR)
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Uberaba (MG)
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Santo André e Diadema (SP)
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Porto Alegre (RS)
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Vitória (ES)
Além disso, cidades como Campos dos Goytacazes (RJ) e Canoas (RS) se destacaram por melhorias expressivas em suas posições em relação ao ranking anterior — um sinal de que políticas públicas bem estruturadas e contínuas trazem resultados mensuráveis.
Onde ainda falhamos: desigualdades gritantes no saneamento
Enquanto alguns municípios se aproximam das metas do Marco Legal do Saneamento (universalização até 2033), outros seguem muito distantes. Capitais como Belém (PA), Rio Branco (AC), Macapá (AP), São Luís (MA), Maceió (AL) e Manaus (AM) continuam entre os piores colocados.
Essas cidades apresentam:
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Cobertura de esgoto muito inferior à média nacional;
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Pouco ou nenhum tratamento do esgoto coletado;
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Investimento anual por habitante inferior a R$ 80, quando o ideal seria mais que o triplo.
Em 2023, os 20 piores municípios investiram, em média, R$ 78,40 por habitante/ano. Nos 20 melhores, o valor foi de R$ 176,39 — quase 60% a mais.
A tabela abaixo evidencia a disparidade:
Indicador | 20 melhores municípios | 20 piores municípios |
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Abastecimento de água (%) | 98,85% | 81,5% |
Coleta de esgoto (%) | 97,4% | 30,07% |
Investimento per capita (R$/ano) | 176,39 | 78,40 |
Tratamento do esgoto (%) | Altamente satisfatório | Muito baixo |
Lições e caminhos possíveis
O ranking reafirma o que especialistas e comunidades já sabem há décadas: investir em saneamento salva vidas, combate desigualdades e promove desenvolvimento sustentável. Cada real investido retorna à sociedade em forma de saúde pública, proteção ambiental e qualidade de vida.
Para que o Brasil atinja as metas do Marco Legal até 2033, será necessário:
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Aumento consistente de investimentos públicos e privados;
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Fortalecimento da regulação e transparência nos contratos de concessão;
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Priorização de municípios historicamente negligenciados, principalmente nas regiões Norte e Nordeste;
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Incentivo à inovação e à eficiência operacional, com monitoramento contínuo.
Vozes que precisam ser ouvidas
Moradores de periferias, favelas e comunidades ribeirinhas conhecem os impactos da ausência de saneamento: doenças, contaminação da água, alagamentos e exclusão social. A universalização dos serviços é também um ato de justiça climática e racial, porque o saneamento que falta no Brasil tem cor, CEP e classe social.
Saneamento é dignidade, e não pode esperar
No Ideias, acreditamos que o acesso à água potável e ao esgotamento sanitário é base para qualquer política pública de desenvolvimento. Os dados do Ranking do Saneamento 2025 são um chamado à ação.
É tempo de transformar ranking em prioridade. E prioridade em política pública duradoura.