O setor de telecomunicações brasileiro vive um momento decisivo no avanço de uma agenda de sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa que vem ganhando densidade nos últimos anos. Com a expansão da conectividade, o aprimoramento de modelos de gestão mais justos, o avanço da transparência e a adoção de novas tecnologias, o ESG tornou-se parte estruturante das operações das empresas do setor.
Ainda assim, os desafios permanecem expressivos, e foi justamente esse o foco central do SEMINÁRIO TELECOM ESG, evento promovido pela TELETIME que reuniu operadoras, reguladores, especialistas, fornecedores e consultorias em São Paulo. A cobertura foi acompanhada pela parceira do Ideias, especialista em comunicação, Paula Aguiar, que destacou a relevância das discussões para a construção de um setor mais responsável e alinhado às demandas socioambientais contemporâneas.

O encontro teve início com o Painel “Agenda ESG: quando o compromisso se torna obrigação”, que discutiu como a agenda socioambiental já extrapola o campo voluntário e começa a se consolidar como exigência regulatória e financeira. A presença de representantes da Anatel e de áreas de ESG de grandes operadoras evidenciou que o cenário regulatório tende a se fortalecer, especialmente com a incorporação de selos de qualidade, novas diretrizes da agência e a adaptação das companhias abertas às taxonomias e normas contábeis internacionais. Ana Beatriz Rodrigues de Souza (Anatel), Thamyris Alonso (Vero), Paloma Mansano (Alares), Bruno Cavalcanti (Conexis) e Luciana Ferreira (Brisanet) trouxeram perspectivas convergentes sobre esse amadurecimento, reforçando que o futuro próximo exigirá ainda mais rigor, rastreabilidade e transparência.
Além disso, o evento apresentou uma análise sobre IFRS e ESG para companhias abertas, conduzida por Denys Roman, que discutiu como as empresas precisam se preparar para novos padrões de reporte que integrarão métricas de sustentabilidade às demonstrações financeiras. Joanes Ribas, diretora de sustentabilidade da Vivo, enfatizou a importância de compromissos de longo prazo, afirmando que consistência e permanência são elementos-chave para que os projetos ESG realmente transformem o setor.
Um dos momentos mais aguardados do evento foi o Painel “O desafio do Escopo 3 nos dias atuais”, que abordou as emissões indiretas de gases de efeito estufa em toda a cadeia de valor — justamente o ponto mais complexo da transição climática nas telecomunicações. Representantes da Ericsson, KPMG, Vivo e TIM discutiram a dificuldade de mobilizar fornecedores de diferentes portes e níveis de maturidade, ao mesmo tempo em que apresentaram avanços importantes. Hoje, grande parte das emissões do setor está concentrada em fornecedores e no ciclo de vida dos equipamentos, e a responsabilidade das empresas tem sido compartilhar conhecimento técnico, oferecer suporte especializado, contratar consultorias para apoiar parceiros e incorporar critérios ESG nos processos de compra, garantindo que a meta de Net Zero até 2035 seja alcançada de forma alinhada em toda a cadeia.
No início da tarde, a apresentação de Patrícia Abreu, diretora de sustentabilidade e projetos da EAF, reforçou como a mobilização social e o engajamento comunitário dão sentido à conectividade, evidenciando que a agenda ESG também trata de inclusão, oportunidades e fortalecimento de territórios. Logo após, Flávio Rodrigues, gerente de sustentabilidade e responsabilidade social da Claro, destacou iniciativas voltadas à empregabilidade jovem, mostrando que o setor pode, ao mesmo tempo, reduzir desigualdades e preparar novas gerações para o futuro do trabalho.

O debate seguiu com o Painel “Sustentabilidade, COP 30 e os próximos desafios”, reunindo especialistas que analisaram a interseção entre as pautas climáticas globais e os compromissos assumidos pelas empresas brasileiras. Márcio Lino (Colin Consultoria), Moisés Moreira (MM Consult), Ana Letícia Senatore (Vivo) e Flávio Rodrigues (Claro) apontaram que o setor já avançou na redução de custos operacionais relacionados à eficiência energética, mas que a próxima etapa será integrar metas globais, indicadores internacionais e estratégias de mitigação mais ambiciosas.
Encerrando a programação, o Painel sobre “Circularidade e os desafios da logística em telecom” trouxe uma discussão essencial: o que acontece com os equipamentos, redes e estruturas legadas depois que os ciclos tecnológicos evoluem? Com a necessidade constante de atualização de dispositivos e infraestrutura, o setor tem hoje um dos maiores programas de logística reversa do país. Letícia Marins (Alloha Fibra), Douglas Comparini (Algar), Gustavo André Fernandes Lima (Ministério das Comunicações) e Fernando Rodrigues da Silva (Vivo) destacaram que reciclar, reaproveitar e transformar resíduos em novos insumos é não apenas uma demanda ambiental, mas uma oportunidade estratégica e econômica. A economia circular, portanto, surge como caminho fundamental para reduzir emissões, ampliar eficiência e fomentar modelos de negócio mais sustentáveis.

O SEMINÁRIO TELECOM ESG mostrou que o setor está amadurecendo sua atuação, que as exigências estão se tornando mais robustas e que a jornada para a neutralidade de carbono e para uma atuação socialmente responsável depende da mobilização de toda a cadeia produtiva.
Vale destacar que, na ocasião, Patrícia Abreu, diretora de sustentabilidade e projetos da EAF, destacou a parceria do Instituto Ideias junto ao programa Brasil Antenado
“O Instituto Ideias vem apoiando a EAF há mais de um ano em trabalhos de mobilização social para que a gente possa acessar e nos relacionarmos com a população de baixa renda de muitas cidades espalhadas pelo país, no processo de troca da parabólica antiga para a nova parabólica digital. É um trabalho muito minucioso que prevê identificação ativa de beneficiários, orientação em relação aos direitos, apoio para agendamento e instalação dos kits…é um trabalho muito detalhista que é realizado nas cidades usando as estruturas que as mesmas possuem, como CRAS, prefeitura, instituições religiosas e outras tantas que influenciam os cidadãos de baixa renda, seja em ambientes rurais ou urbanos. É um trabalho muito importante que apoiou a EAF em um alcance maior dos beneficiários, garantindo que a informação além de chegar, possa apoiar a população na tomada de atitude. Sabemos que em contextos de grande vulnerabilidade social e no nosso caso, exclusão digital, não adianta apenas enviar informação, é preciso muitas vezes dar assistência à população no processo de obtenção ou acesso à política pública. É nesse sentido que o Intituto Ideias vem nos ajudando, sempre com um olhar muito atento para as comunidades as quais as equipes atuam e sempre trazendo um feedback importante das cidades para a empresa. Têm sido uma experiência muito valiosa e de resultados muito expressivos”.
Ao acompanhar o evento, Paula Aguiar, reforçou a importância de observar como tecnologia, sustentabilidade, governança e impacto social se entrelaçam para construir um futuro mais inclusivo, transparente e alinhado às urgências climáticas. O evento demonstrou que o setor de telecomunicações já não trata ESG como tendência, mas como obrigação — e que esta transição, embora desafiadora, tem potencial para transformar profundamente a sociedade brasileira.
