
Você já parou para pensar para onde vai o lixo depois que sai da sua casa? Em muitas cidades brasileiras, o destino de resíduos sólidos ainda é aterros precários ou lixões irregulares. Ao mesmo tempo, milhões de pessoas vivem sem coleta seletiva, enfrentando falta de oportunidades e exclusão social.
Mas essa realidade está mudando, e as soluções vêm, cada vez mais, das periferias e comunidades tradicionais. É nesse contexto que a economia circular se apresenta como alternativa potente para promover desenvolvimento sustentável com inclusão e protagonismo local.
O Ideias atua diretamente com iniciativas que transformam resíduos em renda, reciclagem em cidadania e logística reversa em justiça ambiental. Neste texto, você vai entender como a economia circular pode (e deve) ser feita com os territórios e para os territórios.
O desafio dos resíduos no Brasil
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil (Abrelpe, 2024), o país gerou cerca de 82,5 milhões de toneladas de resíduos urbanos em 2023. Desse total:
-
Apenas 4,1% foram reciclados;
-
Mais de 2 mil municípios ainda não contam com coleta seletiva;
-
76 mil catadores atuam de forma informal, sem acesso a políticas públicas adequadas.
Ou seja, o modelo atual é linear, excludente e insustentável: extrai, produz, consome e descarta. Enquanto isso, os impactos se concentram nas áreas mais vulneráveis, periferias urbanas, favelas, comunidades ribeirinhas e territórios indígenas, onde falta saneamento, sobra poluição e a crise climática é mais visível.
Economia circular: conceito e prática nas comunidades
A economia circular é um modelo que rompe com o ciclo do desperdício. Ela propõe manter os materiais em uso pelo maior tempo possível, por meio de reuso, conserto, reciclagem, compostagem e redesign de produtos e processos.
Mas, além da teoria, a economia circular já é uma realidade viva e criativa nas comunidades brasileiras. Veja alguns exemplos:
-
Cooperativas de catadores e catadoras organizam cadeias de reciclagem com impacto social direto;
-
Grupos de mulheres periféricas criam moda circular com retalhos e sobras têxteis;
-
Hortas comunitárias transformam resíduos orgânicos em compostagem e alimento;
-
Iniciativas de logística reversa coletam eletroeletrônicos e promovem capacitação técnica.
Essas ações são expressões concretas de inovação social, feitas por quem conhece os problemas de perto e constrói soluções com autonomia e sabedoria popular.
O papel do Ideias
O Ideias acredita que a economia circular precisa ser descentralizada, democrática e territorializada. Por isso, desenvolvemos programas que unem:
-
Educação ambiental e empreendedorismo social, com foco em mulheres, jovens e povos tradicionais;
-
Apoio à criação de redes locais de reciclagem, compostagem e reutilização;
-
Articulação entre comunidades, governos e setor privado para promover compras públicas sustentáveis e inclusão produtiva;
-
Fortalecimento de cooperativas e coletivos com assessoria técnica, formação e comunicação.
Um exemplo é o projeto “Reciclo”, em parceria com a Vale.
Circular também é justiça climática
A economia circular é uma estratégia essencial para enfrentar a crise climática, já que evita a emissão de gases de efeito estufa ao reduzir a extração de recursos naturais e o volume de resíduos em decomposição.
De acordo com relatório da Fundação Ellen MacArthur, até 45% das emissões globais podem ser evitadas com a adoção plena da economia circular, sobretudo nos setores de alimentação, mobilidade e construção.
Além disso, ao gerar renda e oportunidades em territórios vulneráveis, ela promove resiliência social e econômica frente aos impactos do clima, como enchentes, calor extremo e escassez de água.
O futuro da circularidade começa nas bordas
A inovação mais transformadora não virá apenas dos centros empresariais ou tecnológicos. Está nas bordas urbanas, nas comunidades tradicionais, nos saberes populares que há décadas reutilizam, consertam e reinventam.
O Ideias aposta nesse potencial como motor de uma transição ecológica com justiça social. Para isso, é preciso:
-
Financiamento público e privado voltado para projetos comunitários;
-
Valorização do trabalho dos catadores e da economia informal;
-
Políticas de compras sustentáveis que incluam cooperativas e coletivos;
-
Incentivo à pesquisa aplicada em territórios populares.
A economia circular, quando enraizada nos territórios, vai muito além da reciclagem: ela reconstrói relações, gera dignidade e fortalece redes de solidariedade. É uma resposta concreta e viável para muitos dos dilemas urbanos e ambientais do nosso tempo.
O Ideias segue construindo essa transformação lado a lado com as comunidades, apostando na potência que emerge quando ambiente, economia e justiça se encontram.