
Faltando apenas 60 dias para a COP30, que será realizada em Belém (PA), o Brasil se prepara para ser o palco da maior conferência climática do planeta. Entre os temas centrais em pauta estão quatro pilares essenciais para o futuro climático global: desmatamento, transição energética, financiamento climático e justiça climática.
Segundo a diretora-executiva do Instituto Ideias, Luana Romero, esses pontos revelam uma contradição: “O Brasil tem o privilégio de abrigar a maior floresta tropical do planeta e contar com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. No entanto, ainda enfrentamos taxas preocupantes de desmatamento e um crescimento significativo no uso de combustíveis fósseis. A COP30 será a oportunidade de mostrar ao mundo que podemos transformar essas potencialidades em resultados concretos, conciliando desenvolvimento com preservação.”
De acordo com o Observatório do Clima, o Brasil ainda precisa reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia, que responde por mais de 50% das emissões nacionais de gases de efeito estufa. No campo da transição energética, embora a matriz seja considerada limpa, o consumo de combustíveis fósseis vem crescendo, sobretudo no setor de transportes.
Outro ponto sensível é o financiamento climático. A ONU estima que os países em desenvolvimento precisarão de US$ 2,4 trilhões por ano até 2030 para cumprir suas metas, mas os recursos prometidos pelas nações ricas ainda não se concretizaram. Para Luana, “não basta anunciar números em conferências. É preciso garantir que o financiamento chegue a quem realmente precisa e seja aplicado em soluções de impacto, especialmente em territórios mais vulneráveis.”
Desmatamento: sinais contraditórios
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No ciclo de agosto de 2024 a julho de 2025, as áreas sob alerta de desmatamento na Amazônia totalizaram 4.495 km², o 2º menor valor da série histórica do DETER, com queda de 8% no corte raso em relação ao ciclo anterior.
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No entanto, o mês de maio de 2025 registrou um aumento dramático de 91% no desmatamento, atingindo 960 km², o 2º pior resultado da série histórica para o mês.
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Em junho, houve uma queda de 18% em relação ao mesmo período do ano anterior (326 km²), mas o acumulado anual ainda mostra alta de 11%.
Transição energética: caminhos promissores
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Em 2024, o Brasil gerou 88,2% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, sendo que vento e solar juntos responderam por 24% da geração.
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Graças a isso, o país apresenta uma das matrizes elétricas mais limpas do G20, com apenas 10% provenientes de combustíveis fósseis e emissões per capita muito abaixo da média global.
Financiamento climático: além das promessas
A COP30 será um teste para a transformação de promessas em resultados reais. É crucial garantir que os compromissos internacionais se traduzam em recursos concretos, permitindo ao Brasil criar políticas e infraestruturas verdes eficazes. A soberania energética está se fortalecendo — com o aumento no uso de etanol de 27% para 30% na gasolina e biodiesel de 14% para 15%, o país caminha para ser autossuficiente em gasolina pela primeira vez em 15 anos.
A justiça climática, por sua vez, coloca no centro do debate povos indígenas, comunidades tradicionais e populações em situação de pobreza. “Esses grupos não podem ser apenas vítimas da crise climática, mas protagonistas na construção de respostas. O mundo precisa olhar para eles não como problema, mas como parte essencial da solução”, afirma a diretora do Ideias.
Luana conclui lembrando que a expectativa internacional sobre o Brasil é alta: “A COP30 será um teste de coerência e de capacidade de execução. Precisamos mostrar que conseguimos transformar compromissos em resultados concretos, deixando um legado real para a Amazônia, para o Brasil e para o planeta.”