Organizações da sociedade civil e representantes de povos indígenas lançaram um apelo global por uma reforma urgente na governança climática da ONU. O documento, intitulado “Apelo Conjunto por uma Reforma Urgente das Negociações Climáticas da ONU”, foi apresentado durante a Conferência de Bonn, na Alemanha, no dia 23 de junho de 2025.
O manifesto, assinado por mais de 200 entidades internacionais, denuncia a ineficácia atual da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e cobra mudanças estruturais antes da realização da COP30, marcada para 2025, em Belém (PA).
Segundo os signatários, as negociações climáticas da ONU têm falhado sistematicamente em promover a justiça climática, permitindo que interesses corporativos e grandes poluidores dominem as decisões.
“A UNFCCC chegou a um ponto crítico. As negociações ignoram os direitos humanos e favorecem países ricos, marginalizando nações vulneráveis e povos indígenas”, diz o documento.
O texto ainda critica a presença crescente da indústria de combustíveis fósseis nas COPs, que teria contribuído para a adoção de soluções ineficazes e para a perpetuação do greenwashing.
As organizações defendem uma série de reformas estruturais, com base em cinco eixos principais:
Democratização das decisões: adoção de votações no lugar do consenso.
Combate à influência corporativa nas negociações da COP.
Transparência e responsabilização nas decisões.
Proteção dos direitos humanos no processo climático.
Fortalecimento da governança climática global, alinhada a outros acordos ambientais.
Para Lien Vandamme, do Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL), a falta de procedimentos claros de tomada de decisão permite que grandes emissores bloqueiem o progresso:
“A ausência de responsabilização cria uma falsa sensação de impunidade. O multilateralismo eficaz é a única saída.”
Já Rachitaa Gupta, da Campanha Global por Justiça Climática (DCJ), destacou a desconexão entre as negociações e a realidade das comunidades afetadas:
“Dentro da UNFCCC, parece que tudo segue como sempre. Fora dela, há perda de vidas, destruição e recordes de emissões. A reforma é urgente.”
An Lambrechts, da Greenpeace Internacional, completou:
“Não há como manter a meta de 1,5°C sem parar a destruição da natureza e o uso de combustíveis fósseis. É hora de integrar os acordos climáticos e de biodiversidade.”
Entre os grupos que assinaram o apelo estão:
ActionAid International
Climate Action Network (CAN)
Campanha Global por Justiça Climática (DCJ)
YOUNGO (Juventude e Crianças da UNFCCC)
Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL)
Greenpeace
Observatório do Clima (Brasil)
Rede de Cooperação Amazônica (RCA)
A pressão por uma reforma urgente da UNFCCC reflete a insatisfação crescente com os resultados das COPs anteriores. A expectativa é de que a COP30, no Brasil, represente um ponto de virada, com mais transparência, justiça climática e responsabilização internacional.
Fonte: Um Só Planeta