Ideias no 12º Encontro da Plataforma de Territórios Criativos América-Europa

O 12° Encontro da Plataforma de Territórios Criativos América-Europa aconteceu no dia 10 de junho no Instituto Caldeira, em Porto Alegre (RS). Com uma programação voltada ao intercâmbio de experiências e ao fortalecimento de políticas públicas para a economia criativa, o evento reuniu painéis temáticos, atividades culturais, feira de criativos, debates e uma palestra internacional de destaque.

Entre os momentos mais relevantes estiveram a participação do urbanista britânico Charles Landry, referência mundial em cidades criativas; um painel sobre os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sob a perspectiva da cultura e da sustentabilidade; além de uma mesa com representantes de distritos criativos da América Latina e da Europa.

A programação também incluiu a assinatura de um memorando de entendimento entre os organizadores, formalizando a cooperação internacional entre territórios criativos.

O encontro foi realizado pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), por meio do programa RS Criativo, e pela organização internacional Conexiones Creativas, com correalização do Instituto Caldeira. Esta foi a primeira vez que a iniciativa — já realizada em países como Chile, Canadá e Colômbia — ocorreu no Brasil.

A consultora do Ideias, Fernanda Scheneider participou do evento e conta com exclusividade, os pontos de destaque do Encontro. Confira!

“Cultura como semente de bem viver e a chance de não desistirmos em pouquíssimo tempo”

Encontros como esses são transformadores em sua essência e esse foi o impulso que me moveu até lá. Há algo neles que tratam de uma esfera maior do que o mero somatório das partes. Há aquilo que nos perpassa enquanto nos engajamos em diferentes frentes de batalha que requerem e demandam nossa atuação constante, contínua e impecável como algo inegociável, indissociável e vital a que denominamos: CULTURA.

Para além das formalidades, das surpresas, pequenos desconfortos, linhas tênues e olhos marejados; ancorou-se ali um espírito de resiliência como vontade banhada no consenso da importância do senso crítico.

Como era o caso de os gaúchos estarem demasiadamente cansados pelas últimas demandas enfrentadas, o palco foi aquecido pela presença dos estados mais quentes do nosso Brasil apresentando além do frio persistente aos inúmeros casacos, com cases maravilhosos para nos inspirar a criar sempre mais. Distrito, Santa Maria e Vale Germânico foram nossos símbolos de resistência. Seres humanos por trás de políticos que persistiram. Braços de instituições, vozes que levaram longe os feitos e as façanhas a que nos dispusemos pelos últimos anos. Sobrevivemos e carregamos com zelo histórias que queremos ouvir e contar. Um outro consenso é que a escuta dos territórios precisa ser o centro de toda operação.

Humor mesmo, e irreverência, talvez, acabou ficando por conta do ilustre professor Charles Landry e dos excelentes mediadores Gregório Lucena e Conrado Uribe que fluíram entre o inglês e o espanhol despácio para manter a plateia sem piscar em até a palavra final de Charles, autor de livros importantes no tema da economia criativa como “The origins and the future of criative city”, foi a cereja do bolo e fazendo valer cada instante.

O encontro pareceu ainda particularmente importante, não só pelos anúncios que acabaram sendo feitos, comprometimentos reforçados e acordos assinados. À minha capacidade de ver, o 12 Encontro de Plataforma de Territórios e Distritos Criativos e Culturais reuniu atores essenciais à discussão da Economia Criativa e evidenciou seu natural entrelaçamento com as ODS.

Organizado a partir da contribuição de gente que tem testemunhado a potência dos territórios e com sua experiência aponta caminhos que levam necessariamente ao encontro e, consequentemente, à transformação individual; pessoal como a base, o ponto de partida para as necessárias transformações coletivas, sociais, locais, regionais, continentais, oceânicas, atmosféricas, globais, planetárias e universais…

A inspiração veio em sorrisos e interações carregadas de afeto, da alegria pelos reencontros, a emoção que inunda o peito com a nítida percepção de “poderíamos não estar aqui”… e o pertencimento gerado nisso que nos conduz como um afluente ao valor à vida brota e nos habita – a cada um, o espaço entre nós e os futuros que construímos quando nos unimos para agir, para imaginar, cultivar afetos até reaprender a sonhar e inventar práticas que em si são sementes de bem-viver que contem em si, por sua vez, a capacidade de superação.

Não houve um segundo de respiro. Dados atrás de dados, falas cronometradas, perguntas carregadas de ânsias que geram duas margens entre onde corre, ao meu ver, as águas que nos levam até a próxima edição. Entretanto, duas afirmações me pareceram resumir o encontro:

1 – Sabemos da nossa força, coragem e capacidade, mas não devemos e não precisamos ficar abandonados cada um a própria sorte. Pra isso servem os governos, pra isso servem as políticas públicas que queremos ajudar a construir e ver construídas para servirem de base também a nossa reconstrução;
2 – Os artistas são afetados e a arte carregará em si a implicação natural desse fato. Não existe território sem o artista, assim como não existe transformação social sem arte. Criar é um ato de sobrevivência, de resistência e de geração de pertencimento enquanto valor que é por sua vez a base do mundo novo que queremos ver nascer e que carrega a responsabilidade de abarcar a diversidade humana e suas formas de expressão.

Para finalizar o relato desse dia intenso, a compreensão que ficou em mim depois de tanta informação e conexão como antídotos para tempos difíceis, é que e, em tempos de crise, seja ela climática, econômica, social, o que sustenta a vida é o amor do artista pela sua arte.

Já por sua vez, o que sustenta o Planeta, é a natureza independente de nossa vontade e em resposta direta as nossas ações, a nossa capacidade de compaixão, empatia, união, organização, comprometimento, formação de redes como pontes estruturantes dos diferentes formatos que os territórios criativos podem e vão a se tornar ao olhar para suas vocações e valorizar o elemento essencial de transformação é nutrir o saber de cada lugar.

Texto de Fernanda Scheneider, Relações Públicas, Consultora Ad Hoc – Transformação Social e Projetos de Impacto.