Campanha Mulheres de Ideias: direitos, igualdade e empoderamento

O Dia Internacional da Mulher, realizado em 8 de março, destaca a luta histórica das mulheres pela igualdade de gênero, direitos sociais e trabalhistas. Apesar dos avanços, muitos desafios persistem, como a desigualdade salarial, a sub-representação feminina em posições de liderança, a violência de gênero e o acesso limitado a oportunidades educacionais e profissionais em diversas partes do mundo.

Este ano, o Ideias, em consonância com a ONU MULHERES, promove a campanha: “MULHERES DE IDEIAS: direitos, igualdade e empoderamento”, um tema que representa um chamado para ações que possam ampliar a igualdade de direitos, poder e oportunidades para todas, e um futuro feminista onde nenhuma seja deixada para trás. O empoderamento da próxima geração é central para essa ideia — a juventude, especialmente as jovens mulheres e meninas, será protagonista de mudanças duradouras.

A Declaração e Plataforma Pequim: um chamado à mobilização

O ano de 2025 representa um marco importante na busca global pela igualdade de gênero e pelo empoderamento feminino, pois comemora os 30 anos da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim. Este documento, adotado por 189 países durante a 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim em 1995, continua sendo uma referência mais abrangente para a promoção dos direitos de mulheres e meninas em escala global, contando com amplo apoio.

A Plataforma de Pequim norteia políticas, programas e investimentos em áreas fundamentais como educação, saúde, paz, mídia, participação política, empoderamento econômico e combate à violência contra mulheres e meninas. Além disso, é essencial que essas questões sejam debatidas com urgência, juntamente com prioridades emergentes, como justiça climática e o impacto das tecnologias digitais, tendo em vista que faltam apenas cinco anos para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Em 2024, 612 milhões de mulheres e meninas viveram em meio à brutal realidade dos conflitos armados, que aumentaram 50% em apenas uma década. Sob a bandeira da campanha global da ONU Mulheres para marcar o 30º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, “Para TODAS as Mulheres e Meninas”, o Dia Internacional da Mulher deste ano é um chamado à mobilização em três áreas principais:

  1. Promover os direitos de mulheres e meninas:Lutar incansavelmente pelos direitos humanos de mulheres e meninas, desafiando todas as formas de violência, discriminação e exploração.
  2. Promover a igualdade de gênero:Abordar barreiras sistêmicas, desmantelar o patriarcado, transformar desigualdades estruturais e elevar as vozes de mulheres e meninas marginalizadas, inclusive das mais jovens, para garantir inclusão e empoderamento.
  3. Fomentar o empoderamento:Redefinir estruturas de poder garantindo acesso inclusivo à educação, ao emprego, à liderança e aos espaços de decisão. Priorizar oportunidades para que jovens mulheres e meninas liderem e inovem.

Para a Diretora de Gente e Gestão do Ideias, Maísa Porto, “É fundamental seguir avançando em direção à igualdade de gênero, honrando os compromissos assumidos há quase 30 anos na 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, e reafirmados na Agenda 2030. Precisamos somar esforços para superar as barreiras que mulheres e meninas ainda enfrentam, garantindo que a igualdade de gênero se torne uma realidade concreta e não permaneça apenas como um ideal.”

 

A  mudança na vida das brasileiras na última década, segundo o IBGE

O mercado de trabalho

Segundo divulgado em março de 2024 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há um enorme disparidade sobre a diferença que ser mulher ou homem no Brasil faz em temas como acesso à educação e ao mercado de trabalho. Os dados revelam que faz diferença também ser, por exemplo, mulher branca ou preta, ou mulher vivendo no Sul ou Norte do país.

De acordo com o IBGE, em 2024, 51,2% da população brasileira era composta por mulheres. Em relação ao mercado de trabalho, as mulheres têm uma participação menor do que os homens. No entanto, a participação das mulheres no saldo total de empregos criados no Brasil aumentou em 2024. 

Em relação à violência contra a mulher, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que os casos de feminicídio recuaram 5% em 2024.

Outros dados sobre as mulheres no Brasil:

* As mulheres pretas ou pardas são mais afetadas pela pobreza e pelas desigualdades na educação.

* As mulheres com crianças de até três anos de idade têm menor nível de ocupação.

* As mulheres são mais escolarizadas do que os homens, mas recebem menos.

Em 2024, as mulheres registraram um crescimento maior na ocupação de vagas de trabalho formal do que os homens. O saldo dos empregos formais para homens cresceu 10% entre janeiro e agosto do mesmo ano, em comparação com o mesmo período de 2023. Já o saldo para as mulheres aumentou 45%. Os dados são de um estudo do FGV Ibre, Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas, que mostrou que esse crescimento contribui para uma redução da desigualdade no mercado de trabalho.

Ainda assim, em números absolutos, os homens ocupam a maior parte das novas vagas com carteira de assinada em todo o país. O salário médio deles também é maior do que o das mulheres.

Segundo o estudo, o crescimento expressivo no saldo feminino de vagas ocupadas no mercado formal gerou uma mudança na composição do saldo total de empregos geral. No acumulado de janeiro a agosto de 2023, cerca de 60% do saldo de empregos criados no Brasil foram ocupados por homens e apenas 39,6% por mulheres. Já no acumulado deste ano a participação das mulheres no saldo total subiu para 46,4%. Um aumento de quase sete pontos percentuais.

Em relação aos salários, o levantamento mostra que, em agosto de 2024, o salário médio dos homens foi de R$ 2.245. Já o salário médio de admissão das mulheres era de R$ 2.031.

Grande parcela do crescimento da mão de obra feminina no mercado formal ocorreu em ocupações como “Vendedores e prestadores de serviços de comércio” e “trabalhadores de atendimento ao público”, com mais de 250% de aumento.

Na ocupação “vendedores e prestadores de serviços do comércio” a participação delas dobrou, passando de 25% para 50%. Outro destaque é a participação das mulheres no saldo de “trabalhadores dos serviços”, que passou de cerca de 55% para 61,5% dos postos ocupados.

*Com informações e gráficos da BBC Brasil

O Ideias possui em seu quadro de colaboradores 95% de mulheres atuando diretamente em projetos que incentivam e apoiam ações com participação de outras mulheres em seus territórios. Programas de Restauração dos Meios de Vida, Programas de Geração de Renda e Programas de Educação Ambiental são amplamente trabalhados nos projetos de cunho socioambiental.

 

Mulheres e o Desenvolvimento Sustentável

A edição mais recente do relatório Progresso nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: O Panorama de Gênero 2024, publicado pela ONU Mulheres em parceria com o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, revela avanços significativos em direção à igualdade de gênero e ao empoderamento de mulheres e meninas em todo o mundo.

Entre os destaques, as mulheres agora ocupam uma em cada quatro cadeiras parlamentares, um progresso considerável em comparação a uma década atrás. Além disso, a proporção de mulheres e meninas vivendo em extrema pobreza caiu para menos de 10%, revertendo os aumentos alarmantes observados durante a pandemia de COVID-19. Desde o primeiro Panorama de Gênero, 56 reformas legais foram implementadas globalmente para combater desigualdades de gênero.

Contudo, o relatório evidencia que nenhum dos indicadores ou subindicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5), voltado para a igualdade de gênero, foi plenamente alcançado. No ritmo atual, a paridade de gênero nos parlamentos pode demorar até 2063, e estima-se que serão necessários 137 anos para erradicar completamente a pobreza entre mulheres e meninas. Além disso, uma em cada quatro meninas ainda se casa na infância.

O relatório também alerta para os impactos econômicos da desigualdade de gênero. O custo global anual de não educar adequadamente as populações jovens ultrapassa 10 trilhões de dólares. Além disso, países de baixa e média renda podem perder cerca de 500 bilhões de dólares nos próximos cinco anos caso não reduzam as discrepâncias digitais de gênero.

Entre as recomendações para eliminar desigualdades de gênero em todos os 17 ODS, o relatório destaca a importância de reformas legais. Por exemplo, países com leis contra violência doméstica registram taxas significativamente mais baixas de violência por parceiros íntimos (9,5%) em comparação com aqueles sem essa legislação (16,1%). Além disso o relatório reforça o apelo por ações decisivas, como o aumento de investimentos, o combate à discriminação contra mulheres e meninas e o compromisso com as metas da Agenda 2030.

Para a Diretora Executiva do Ideias, Luana Romero, “A inação diante da igualdade de gênero acarreta custos enormes, enquanto os benefícios de promovê-la são inegáveis e não podem ser ignorados. O cumprimento da Agenda 2030 depende diretamente da participação plena e igualitária de mulheres e meninas em todos os setores da sociedade.”

Relatório Completo, em Inglês: Progress on the Sustainable Development Goals: The Gender Snapshot 2024

As Mulheres e a agenda ESG

O estudo A liderança feminina na agenda sustentável, publicado na Revista GV Executivo, mostra a relação positiva entre o desempenho em ESG e a presença de mulheres na diretoria e no conselho de administração de empresas no Brasil. Seriam elas mais sensíveis a questões ambientais, sociais e de governança?

Em um cenário onde ainda não existe padronização das informações fornecidas pelas empresas nem um consenso do mercado sobre o que deve ser priorizado na avaliação de riscos e desempenhos relacionados aos fatores ESG, a presença de liderança feminina se mostra relevante. O estudo aponta que mulheres em posições de liderança e nos conselhos demonstram maior atenção à gestão de indicadores, engajamento nos ratings e elevada capacidade de atender a políticas, normas e controles.

Uma sugestão que emerge desse contexto é a inclusão da diversidade na alta gestão e a presença objetiva de mulheres em diretorias e conselhos como critérios nas metodologias de análise ESG. Isso se justifica pelo impacto positivo comprovado dessas lideranças no desempenho organizacional. Com o aumento da pressão sobre a inclusão de mulheres nesses espaços, tende-se a reduzir as barreiras enfrentadas por elas no exercício da liderança. Apesar de ocuparem altos cargos, muitas ainda enfrentam preconceitos de gênero que comprometem sua atuação, devido à persistência da visão de que mulheres não são percebidas como líderes legítimas, além dos papéis sociais que lhes são atribuídos.

Curiosamente, a maioria das executivas entrevistadas no estudo não se identifica como feminista. No entanto, elas atuam como agentes de transformação, apoiando uma agenda afirmativa para a promoção da equidade de gênero nas organizações. Em seus discursos, destacam que conquistas individuais não representam, por si só, avanços estruturais ou imediatos na situação das mulheres no mercado de trabalho.

A liderança feminina na agenda sustentável mostra-se, assim, um componente essencial para impulsionar mudanças no ambiente corporativo e na sociedade.

Violência contra as mulheres:

Uma mulher ou menina é morta a cada 10 minutos por seu parceiro íntimo ou outro membro da família

Em 2023, cerca de 85.000 mulheres e meninas foram mortas intencionalmente em todo o mundo. Desses homicídios, 60% — aproximadamente 51.000 — ocorreram dentro do círculo familiar, sendo perpetrados por parceiros íntimos ou outros membros da família. Isso significa que, diariamente, 140 mulheres e meninas perderam suas vidas para aqueles que deveriam protegê-las, o equivalente a uma vítima a cada 10 minutos.

A África apresentou as maiores taxas de feminicídios ligados a parceiros íntimos e familiares, seguida pelas Américas e Oceania. Na Europa e nas Américas, a maioria das mulheres assassinadas em ambientes domésticos (64% e 58%, respectivamente) foi vítima de parceiros íntimos, enquanto em outras regiões, os principais agressores foram parentes próximos.

Apesar de avanços em normas e diretrizes globais, muitas mulheres e meninas ainda não têm seus direitos plenamente assegurados. Essa lacuna entre promessas e realidade é inaceitável e exige medidas urgentes.

Os números são alarmantes: mais de 600 milhões de mulheres e meninas vivem em áreas de conflito, onde enfrentam graves violações de direitos humanos, incluindo violência sexual. Uma em cada três mulheres sofre violência de parceiros íntimos, sendo que mulheres com deficiências enfrentam riscos ainda maiores.

No ritmo atual de progresso, levará 137 anos para erradicar a pobreza extrema entre mulheres e meninas, 68 anos para acabar com o casamento infantil e 39 anos para alcançar a paridade de gênero. Com a aproximação de 2030, o avanço em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável permanece criticamente lento.

Promover os direitos humanos das mulheres beneficia toda a sociedade. Evidências mostram que garantir esses direitos não é apenas uma questão moral, mas estratégica. A inclusão de mulheres em processos de paz prolonga a duração da estabilidade, economias prosperam quando há igualdade de oportunidades econômicas, e a governança se fortalece com a paridade de gênero. Comunidades prosperam quando mulheres e meninas vivem livres de violência.

Apenas assegurando os direitos humanos de mulheres e meninas – em toda a sua diversidade – será possível construir um futuro pautado na igualdade, justiça, inclusão, paz, prosperidade sustentável e proteção ambiental.