O Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, celebrado em 7 de fevereiro, é um momento crucial para refletirmos sobre os direitos e desafios enfrentados pelos povos originários no Brasil. A data remete à resistência indígena frente às inúmeras ameaças aos seus territórios, culturas e formas de vida, colocando em pauta a importância da demarcação de terras indígenas.
A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988 e fundamental para a preservação da identidade, cultura e sobrevivência dos povos indígenas. Além disso, esses territórios desempenham um papel essencial na proteção da biodiversidade e na mitigação das mudanças climáticas, uma vez que as terras indígenas são algumas das áreas mais preservadas do país.
Contudo, o processo de demarcação enfrenta diversos entraves políticos, econômicos e burocráticos. Grupos ligados ao agronegócio e à exploração de recursos naturais frequentemente contestam a demarcação, resultando em conflitos, invasões e violência contra comunidades indígenas. A morosidade do governo na oficialização dessas áreas também agrava a situação, deixando povos inteiros vulneráveis a ameaças.
Segundo o relatório de 2023 do CIMI – Conselho Indigenista Missionário, do total de 1.381 terras e demandas territoriais indígenas existentes no Brasil, a maioria (62%) segue com pendências administrativas para sua regularização. São 850 terras indígenas com pendências. Destas, 563 ainda não tiveram nenhuma providência do Estado para sua demarcação.
Nos últimos anos, os povos indígenas têm enfrentado desafios cada vez maiores no que diz respeito à demarcação de suas terras. Projetos de lei e medidas administrativas tentam restringir os direitos já conquistados, como o marco temporal, que propõe limitar as demarcações a terras ocupadas pelos indígenas antes da Constituição de 1988. Essa tese desconsidera os inúmeros deslocamentos forçados que essas comunidades sofreram ao longo da história.
Além disso, o aumento do desmatamento, garimpo ilegal e conflitos fundiários ameaça não apenas os territórios indígenas, mas o equilíbrio ambiental de todo o Brasil. Organizações indígenas e movimentos sociais seguem mobilizados, exigindo a aplicação das leis e a garantia da segurança e dignidade dos povos originários.
Os casos de “Violência contra a Pessoa”, destacados no relatório do CIMI, totalizaram 411 registros em 2023. Esta seção é dividida em nove categorias, nas quais foram registrados os seguintes dados: abuso de poder (15 casos); ameaça de morte (17); ameaças várias (40); assassinatos (208); homicídio culposo (17); lesões corporais (18); racismo e discriminação étnico-cultural (38); tentativa de assassinato (35); e violência sexual (23).
Assim como nos anos anteriores, mantiveram-se com os maiores números de assassinatos de indígenas os estados de Roraima (47), Mato Grosso do Sul (43) e Amazonas (36). Os dados, que totalizaram 208 assassinatos, foram compilados a partir da base do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e de informações obtidas junto à Sesai via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Diante desse cenário, a luta indígena tem se fortalecido por meio de mobilizações, protestos e ações jurídicas em defesa de seus direitos. Líderes indígenas, como Sonia Guajajara (Ministra dos Povos Indígenas), Ailton Krenak e Davi Kopenawa, têm sido vozes fundamentais na denúncia das violações e na busca por justiça.
O Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas nos lembra que a defesa dos direitos dos povos originários não é apenas uma questão indígena, mas de toda a sociedade. A garantia da demarcação de terras não apenas respeita a história e a dignidade desses povos, mas também protege o meio ambiente e fortalece a diversidade cultural do Brasil.
No Ideias, a execução de projetos com comunidades tradicionais, foca no diálogo e valorização da escuta ativa, transparência e acolhimento, respeitando sempre suas tradições e cultura. Por isso, acreditamos que essa data representa um chamado para a conscientização e ação em prol dos povos indígenas e da justiça socioambiental no país. Juntos, por um mundo melhor.