Nos últimos anos, a agenda ESG (ambiental, social e governança) ganhou destaque no mundo corporativo, tornando-se uma pauta norteadora para empresas que desejavam alinhar seus objetivos financeiros ao aumento de impacto positivo no planeta e na sociedade. Contudo, esse avanço vem enfrentando resistências significativas, que agora se intensificam com a reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Este fenômeno, que vem sendo chamado na imprensa de “Efeito Trump”, está associado a um movimento anti-ESG que busca enfraquecer a adesão empresarial a essas pautas, uma tendência já observada em 2024.
A pressão contra as iniciativas ESG não é nova, mas ganhou força nos últimos anos. Grupos contrários argumentam que o foco excessivo em metas ambientais ou sociais pode comprometer a lucratividade das empresas. Para esses grupos, a responsabilidade corporativa é vista como um obstáculo ao crescimento econômico e à liberdade de mercado.
Com a reeleição de Trump, esse discurso parece ter encontrado ainda mais adeptos. Conhecido por sua postura cética em relação às mudanças climáticas e por medidas que enfraqueceram regulações ambientais durante seu primeiro mandato, Trump representa um retrocesso para o avanço da sustentabilidade corporativa. Sua influência também legitima a pressão de investidores e líderes empresariais que já estavam inclinados a minimizar a relevância das iniciativas ESG.
Algumas gigantes corporativas começaram a recuar em relação a seus compromissos ESG. Semana passada, a Meta, por exemplo, enfrentou críticas ao não priorizar medidas de moderação de conteúdo, mesmo com o aumento de desinformação em suas plataformas. Recentemente, anunciou o fim das restrições a conteúdos considerados “culturais e políticos”, permitindo publicações que associam gênero ou orientação sexual a condições negativas, marcando um distanciamento de princípios inclusivos.
O McDonald’s, por sua vez, recuou em seu programa de diversidade e inclusão, deixando de priorizar a contratação de candidatos de grupos sub-representados e limitando iniciativas voltadas à equidade. Esses movimentos indicam um enfraquecimento no compromisso dessas empresas com a criação de valor sustentável e inclusivo a longo prazo.
Essa tendência não se limita aos Estados Unidos. A liderança norte-americana tem um papel importante em influenciar a direção de outras economias globais. O recuo em ESG por parte de empresas de referência pode desencorajar corporações menores a manterem seus compromissos nessa área, criando um efeito cascata global. A sustentabilidade, que deveria ser uma prioridade comum a todos os países e negócios, corre o risco de ser relegada a um segundo plano.
Neste momento, é essencial que profissionais, investidores e, principalmente, consumidores que acreditam no valor das iniciativas ESG se posicionem. A promoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança não é apenas uma questão ética, mas também estratégica. Diversos estudos mostram que empresas que adotam princípios ESG têm desempenho superior a longo prazo, além de maior resiliência em momentos de crise.
Além disso, é fundamental que a sociedade civil e organizações não governamentais mantenham a pressão para que governos e empresas não abandonem seus compromissos. Precisamos de lideranças que enxerguem além do curto prazo e que compreendam que sustentabilidade e lucratividade não são objetivos antagônicos.
O “efeito Trump” representa um desafio significativo para o avanço das pautas ESG, mas também é uma oportunidade para reafirmarmos a importância dessas iniciativas. Em um mundo cada vez mais interconectado, retrocessos em sustentabilidade não afetam apenas um país ou uma empresa, mas colocam em risco o futuro de todos.
É necessário garantir que o progresso conquistado até aqui não seja perdido e que as empresas continuem a ser agentes de transformação positiva.
Autor: Carolinna Amorim , Coordenadora de Projetos no Ideias. Mestranda em Gestão Social e Desenvolvimento Territorial, com experiência na gestão de projetos de impacto social e sustentabilidade. Especialista em ESG, comunicação e mobilização social.
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